sábado, julho 10, 2004

Andaram dizendo que eu mudei - ou um post sentimentalóide e mulherzinha, não percam tempo lendo isso
Conheci Danon, o americano, num sábado. Ele, chegando de Salamanca para passar a noite no meu apartamento. Seu vôo era no domingo de manhã, "e naquela cidade está um calor infernal", me disse.
Saímos todos juntos à noite, depois de um jantar ótimo, feito por ele. Chegamos às cinco da manhã. O apartamento, lotado de gente - que passaria lá apenas aquela noite, a última noite em Madrid - , dormindo em camas vagas, no sofá, no chão.
Fui dormir.
No meu quarto tinha uma cama vazia. "Tati, você se incomodaria se eu dormisse nessa cama?"
"Claro que não, Danon, entra, já estou quase dormindo".
Conversamos sem parar até as oito da manhã. É estranho como algumas pessoas aparecem do nada na sua vida e ganham uma importância não só pelo que elas são, mas pelo que elas acabam significando em um determinado momento - que pode durar um segundo, quinze minutos ou três horas. "Você é uma menina muito especial. Inteligente, doce, cool. E linda. Você diz que é insegura. Mas se tem coragem de me contar o que quer fazer da sua vida, tem coragem suficiente para fazer qualquer coisa", ele me dizia.
"Nunca deixe alguém dizer que você não é capaz, porque você é. Não desista assim tão fácil de tudo que você sonha. Vai fazer seus filmes, vai viajar. Você precisa fazer isso, por você". Levantou, tirou a camisa, jogou na minha cama. "Guarda. Assim você não esquece dessa noite", completou.
Esqueci a camiseta em Madrid.
Mas obviamente não esqueci de nada do que ele me disse até agora.
Assim como não esqueço o que Marcela, uma das americanas, me disse - eu de mochila nas costas, mala na mão, antes de correr para o aeroporto. "Tati, você é a menina mais especial que eu já conheci. Estou feliz, de verdade, por termos nos encontrado aqui em Madrid. Você tem um coração enorme. Nunca deixe ninguém te diminuir, te pisar, te humilhar. Você tem a cabeça no espaço, você não vive na Terra, e é isso que te faz diferente. Não mude por nada, nem por ninguém. Você é boa demais pra isso".
E é disso que eu lembro agora sempre que penso que enfrentar a minha realidade está sendo demais para mim.
Quando percebo que me desacostumei a trabalhar, quando revejo o ex-namorado que não via há três meses, quando decido deixar de vez essa e outras histórias para trás (e consigo), quando lembro que não tenho dinheiro, quando tenho vontade de dizer para o sujeito que conheci há menos de dois meses que senti saudade dele...
Mas vou sobreviver. Eu sempre sobrevivo, não seria diferente agora.
: )

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